Pesquisador do Reuters reflete sobre como o avanço da inteligência artificial (IA) está fazendo a mídia
REDAÇÃO – As empresas jornalísticas estão se preparando para transformações profundas como resultado da crescente influência da inteligência artificial (IA) – tanto na forma como trabalham como na forma como o seu público consome notícias.
Como parte do nosso último relatório de tendências do jornalismo, eu e meus colegas do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo descobrimos que menos da metade (47%) dos 314 editores, CEOs e outros líderes de empresas de mídia digital de mais de 50 países estão confiantes sobre as perspectivas do jornalismo para 2024.
O relatório reflete um período difícil para as empresas jornalísticas ao longo de vários anos.
As consequências do uso da IA no jornalismo
O declínio da publicidade online, o abrandamento do crescimento do número de assinantes e a rápido enfraquecimento das referências provenientes das redes sociais contribuíram para quedas drásticas nas receitas.
Dados mostram que só as referências do Facebook caíram 48% no ano passado, e muitos temem que o tráfego de pesquisa seja o próximo.
Espera-se que o Google e a Microsoft, entre outros gigantes da tecnologia, implementem interfaces baseadas em chat e orientadas por IA que foram treinadas usando majoritariamente conteúdo de empreasas jornalísticas – ou pelo menos é o que alega o editor do New York Times- , sem a sua permissão.
Mas não se trata apenas de pesquisa na Internet. Também estamos vendo uma proliferação de assistentes de IA de conversação (chatbots) integrados em computadores, telefones celulares e até mesmo em carros, que mudarão a maneira como encontramos e consumimos conteúdo de todos os tipos.
Acordos com empresas de IA
Enquanto isso, links para fontes de notícias em sites ficam em segundo plano. Como resultado, muito menos público chegará ao site de notícias.
Neste contexto, não é surpreendente descobrir que algumas editoras como a AP e a Axel Springer já fizeram acordos com empresas de IA.
O New York Times, entretanto, está tomando medidas legais sobre o que diz ser a utilização não autorizada de trabalhos publicados para treinar tecnologias de IA.
Muitos esperam que, desta vez, o resultado beneficie os editores de notícias e conteúdo original e de alta qualidade.
“Há uma oportunidade para a indústria trabalhar com mediadores na IA para conceber um ecossistema simbiótico e essa é uma oportunidade que não devemos desperdiçar”, afirma o diretor operacional de uma importante empresa de notícias do Reino Unido, que deseja permanecer anônimo.
Pesquisa releva que editores não estão otimistas
A maioria dos editores que participaram da pesquisa, entretanto, não está otimista de que esta nova fase de negociações funcione bem.
Mais de um terço (35%) considerou que apenas algumas grandes empresas de mídia se beneficiariam, enquanto cerca de metade (48%) previu que, em última análise, haveria pouco dinheiro disponível para todos.
Há muito pouco otimismo no mercado sobre a possibilidade de as organizações jornalísticas fazerem um acordo favorável com as empresas de IA.
As preocupações da indústria não são apenas sobre dinheiro. Mais de dois terços (70%) dos entrevistados pensam que a disponibilidade de IA generativa pode reduzir a confiança nas notícias. O diretor de produtos da Der Spiegel, Christoph Zimmer, afirmou:
“A explosão de conteúdos ruins definitivamente tem o potencial de abalar a confiança”.
Zimmer destaca preocupações sobre o uso de deepfakes e outras formas de comunicação sintéticas, ao mesmo tempo que espera que a ampla disponibilidade de tais conteúdos de segunda categoria também possa “permitir que meios de comunicação [confiáveis] se diferenciem mais claramente”.
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