Audiência debaterá impactos da Stock Car no entorno do Mineirão, principalmente para a UFMG
REDAÇÃO – Diante da insistência da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) de permitir a realização de uma etapa do Campeonato Brasileiro de Stock Car no entorno do Mineirão, a despeito dos impactos negativos, a Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) se mobiliza mais uma vez para debater o tema. A audiência pública acontecerá nesta terça-feira (16/4/24), a partir das 9h30, no Auditório José Alencar.
A reunião atende a requerimento da presidenta do colegiado, deputada Beatriz Cerqueira (PT). Segundo ela, um eventual retorno financeiro do evento jamais vai compensar os prejuízos ambientais, sociais e para o desenvolvimento da ciência e tecnologia na capital mineira.
Pensando nesse último aspecto, a audiência tratará justamente dos impactos da Stock Car nas atividades de ensino, pesquisa e extensão da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), cujas unidades se situam a algumas dezenas de metros do que seria o circuito da corrida.
Uma delas é o Biotério Central da UFMG, estratégico para a realização de pesquisas de dezenas de instituições públicas mineiras e de outros cinco estados, pois de lá saem anualmente mais de 23 mil unidades dos chamados roedores padronizados para pesquisas científicas.
O ronco dos motores dos carros da Stock Car, sempre fica acima dos 110 decibéis, podem comprometer a qualidade e até mesmo a sobrevivência das cobaias, bastante sensíveis a ruídos e vibrações.
Esses pequenos animais salvam milhões de vidas, mas já se fragilizam quando expostos a ruídos acima de 70 decibéis, conforme apurado em visita técnica da mesma Comissão de Educação ao campus Pampulha da UFMG no último dia 21 de março. O requerimento para essa atividade também foi de autoria de Beatriz Cerqueira.
O relatório desta inspeção traz várias recomendações a serem debatidas e cobradas nesta nova audiência sobre o assunto, todas no sentido da mudança de local do evento e proteção das atividades da UFMG. Essa providência será cobrada sobretudo da PBH e dos organizadores.
De acordo com Beatriz Cerqueira, a Secretaria de Meio Ambiente da capital também é questionada no documento sobre necessidade de licenciamento ambiental e urbanístico da corrida pelo fato de se tratar, na prática, de um empreendimento e, como tal, requerer análise dos potenciais impactos permanentes da sua realização, mesmo periódica. Ou seja, a licença já concedida seria referente a um evento e a corrida e seus impactos apontam para a necessidade de uma licença para empreendimento.
O relatório também exige da Advocacia Geral da União as ações necessárias para a proteção do Biotério Central. Segundo Beatriz Cerqueia, a conclusão da visita técnica é, no benefício de toda a sociedade, a realização da Stock Car em em outro local, sem comprometer o funcionamento de uma instituição de ensino e pesquisa do porte da UFMG.
“Já conseguimos demonstrar tecnicamente os prejuízos irreparáveis e irremediáveis da Stock Car para a UFMG. Portanto, apelamos aos organizadores, assim como à PBH, o estudo de outro local para realizar esse empreendimento.”
Dep. Beatriz Cerqueira
Árvores cortadas e equipamentos desmontados
O corte sem aviso pela PBH de dezenas de árvores na região, além do desmonte ou reforma de equipamentos públicos apenas para a realização da prova, como semáforos, placas, quebra-molas, travessias de pedestres e até asfalto, já havia motivado outra audiência pública na ALMG pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, no último dia 29 de fevereiro, também atendendo a requerimento de Beatriz Cerqueira.
A parlamentar foi autora de uma das ações impetradas, com pedido de liminar, para tentar parar o corte de árvores, todas sem sucesso. Agora, reforça a importância desta nova audiência pública para tentar poupar a UFMG dos impactos da Stock Car nos quatro dias de evento, de 15 a 18 de agosto, quando acontecerá o chamado BH Stock Festival.
Várias vias de acesso serão bloqueadas, ameaçando o funcionamento da UFMG nos dias de evento e prejudicando milhares de pessoas. É o caso, por exemplo, da entrada para o estacionamento do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), para 500 veículos, com acesso único externo pela Avenida Rei Pelé, na rota dos bloqueios. O espaço fica justamente entre o entorno do Biotério Central e o Mineirão, estádio no centro do futuro circuito de rua.
Outra unidade a abrigar animais sensíveis à poluição sonora, como cavalos e peixes, é a Escola de Veterinária. Ela também seria afetada, assim como a Escola de Odontologia, responsável pelo atendimento de centenas de pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).
O Centro Esportivo Universitário (CEU), utilizado pela comunidade, e o Centro de Treinamento Esportivo (CTE), local de treinamento de atletas olímpicos e paraolímpicos são outros dois locais a serem isolados pela Stock Car.
Há ainda a Estação Ecológica, uma das maiores áreas verdes de BH e refúgio de macacos, raposas e outros animais silvestres. Com o barulho, eles podem fugir para a Avenida Catalão e provocar acidentes.
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Terreno do Mineirão pertenceria à UFMG
Para a audiência desta terça (16) a reitora Sandra Regina Goulart Almeida e outros representantes da UFMG foram convidados. Também convidados representantes do Ministério Público estadual e federal, PBH e Câmara Municipal.
O executivo-chefe da Speed Seven, empresa promotora da Stock Car, Sérgio Santos Sette Câmara, e o diretor-presidente da Minas Arena – Gestão de Instalações Esportivas S.A., concessionária do Mineirão e seu entorno, André Luis Santana Moraes são outros convidados.
O contrato firmado entre a PBH e os organizadores da Stock Car prevê a realização de provas no entorno do Mineirão por cinco anos, mas, segundo informações da reitoria da UFMG, o estádio estaria situado em um terreno ainda pertencente à universidade e cedido depois ao Estado. Isso sob o compromisso legal de a universidade ser consultada previamente para aprovar qualquer intervenção. Isso não teria ocorrido.
A etapa de agosto será a primeira em BH da mais importante categoria do automobilismo brasileiro. Os ingressos começaram a ser vendidos na última segunda (8). Dois dias antes, manifestantes protestaram contra o evento em frente ao Mineirão e fizeram um abraço simbólico ao campus da UFMG.
O campeonato tem 12 etapas e começou em março, em Goiânia, e se estenderá até dezembro, com o encerramento em Interlagos, na capital paulista.