segunda-feira, novembro 25, 2024
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Acionamento de sirenes em Santa Bárbara causa terror em professores e alunos

REDAÇÃO – “A sirene avisa que vai morrer todo mundo, basicamente é isso para as crianças, né?”. Assim a professora Claydes Araújo resumiu o sentimento de docentes e alunos da Escola Estadual Professora Nhanita, no distrito de Brumal, em Santa Bárbara (Região Central), quando ouviram o sinal sonoro que alertou falsamente para uma situação de emergência de rompimento de barragem, no dia 29 de outubro.

A escola recebeu a Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta sexta-feira (22/11/24). O objetivo do encontro foi ouvir a comunidade sobre os danos causados pelos recorrentes acionamentos indevidos de sirenes de emergência da barragem de rejeitos da mineradora AngloGold.

O episódio narrado foi o sexto desse tipo no município desde 2019. Em nota, a empresa assumiu o erro, lamentando o equívoco e pedindo desculpas aos moradores da região.

Pânico, despreparo, desespero

Segundo a professora Claydes, foi um dia de pânico total. Na escola, estudam cerca de 200 alunos dos ensinos fundamental e médio e 130 crianças do ensino infantil.

Estudantes de todas as idades, desesperados, procuravam evacuar o prédio, com corredores e escadas estreitos. Algumas crianças choravam, outras se escondiam, outras ficaram paralisadas. Enquanto isso, os professores percebiam que os treinamentos não os prepararam para aquele momento.

“A gente teve um treinamento, mas vimos que não foi funcional, porque a gente tinha que, primeiro, sair calmamente, o que não é possível em um momento de desespero desse”, advertiu a professora, ao descrever essa preparação em um cenário pouco realista, com a disponibilização de capas de chuva, lanche e com uma grande equipe de apoio.

O fato de ter sido o sexto acionamento equivocado também trouxe descrédito para uma possível situação de perigo, como destacou a professora Rosiane Neri. “Como não houve o rompimento, vai ser mais uma estatística. Se ocorrer de verdade um sétimo acionamento, as pessoas vão achar que é mentira e podem ocorrer mortes, porque elas realmente não vão sair de casa”, relatou.

Rosiane ainda alertou para as consequências do terror causado nesses momentos de desespero no bem-estar e no rendimento escolar das pessoas impactadas: “Vira e mexe, os alunos lembram do episódio, então isso acaba afetando a concentração deles, além do trauma que vão carregar para o resto da vida. Muitos relatam que não conseguem dormir”.

A estudante Lindalva Mota também se queixou da postura da empresa após o incidente. “Levou horas para eles falarem que foi alarme falso e não vieram para cá se pronunciar. A gente precisava da palavra deles. Mandaram uma psicóloga aqui no começo do ano, mas ela foi embora dizendo que os casos dos alunos, a angústia deles, a ansiedade, não tem nada a ver com a barragem”, contou.

Joyce Luz, do Movimento dos Atingidos pela Mineração, se queixou da falta de punição à mineradora, mesmo diante de tantos casos registrados, e da passividade da prefeitura diante dessa situação no município.

“A AngloGold desrespeita a comunidade e muita coisa precisa ser feita. Nós precisamos construir um protocolo para as escolas públicas que estão em zona de autossalvamento, elas não podem continuar sozinhas como estão. Também vamos construir um projeto para que a assistência psicológica seja fornecida pelo poder público. A mineradora encaminhou alguns profissionais aqui para a escola, ela detém informações. Quem fiscaliza esse atendimento da mineradora? O atendimento psicológico precisa ser de forma autônoma”, salientou a deputada Beatriz Cerqueira (PT), que solicitou a visita técnica.

Ela lembrou que as professoras e demais profissionais da escola também são vítimas dessa situação e não contam com nenhum tratamento, de acolhimento e escuta, nem por parte do poder público nem por parte da mineradora.

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