sexta-feira, novembro 22, 2024
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Transplante de córnea é o segundo tipo mais aguardado por pacientes no país

IPATINGAA aposentada Ana Maria Marcial Maia, de 69 anos, está vivendo um novo capítulo em sua vida. Na fila por uma doação de córnea há mais de quatro anos, ela recebeu a tão aguardada notícia e, recentemente, passou por um transplante no Hospital Márcio Cunha, em Ipatinga. Ela foi a sexta moradora do Vale do Aço a realizar esse procedimento na região.

“Durante a cirurgia eu já estava enxergando as mãos do médico. Foi um uma felicidade tremenda”, conta. “A cirurgia foi um sucesso e durou cerca de uma hora. A expectativa é de que a paciente retome de 70 a 90% da visão” relata o médico oftalmologista dr. Silas Machado Franco Júnior, que foi o responsável pelo procedimento cirúrgico.

Indicação

Ana Maria foi diagnosticada com uma doença na córnea há treze anos, conhecida como ceratopatia bolhosa, e foi perdendo progressivamente a visão. Há cerca de dois anos, ela passou a viver com menos de 10% da visão do olho direito e cerca de 30% do esquerdo. “Minha mãe já não saia sozinha, não conseguia ler, pegar um ônibus e realizar tarefas simples. Era necessário que a gente a acompanhasse em tudo”, conta a filha da aposentada, a empresária Renata Marcial Maia.

Sem tratamentos medicamentosos ou cura, a doença é listada como uma das principais indicações para transplante de córnea, assim como o ceratocone, ceratite, queimaduras químicas da córnea e distrofias do estroma da córnea (camada mais espessa da córnea, composto basicamente por fibras de colágeno e células).

Esperança

Segundo o levantamento divulgado, em junho de 2022, pelo Programa de Qualificação do Sistema Nacional de Transplantes (QualiDot) do Ministério da Saúde, o Brasil tinha 56.847 pacientes que aguardavam um transplante de órgãos ou tecidos. A maioria espera por uma doação de rim (32.481 pacientes) e, logo em seguida, de córnea (21.260).

O transplante de córnea é a esperança de muitos pacientes com baixa acuidade visual. Em muitos casos, somente um transplante pode reaver a visão. Por ser um órgão avascular (não irrigado por vasos sanguíneos), o risco de rejeição é menor do que em outros órgãos.

Renata Marcial, que é doadora de órgãos, assim como o irmão, comemora a graça recebida pela família. “Estamos muito felizes. É uma benção. Agora é vida nova para minha mãe, com mais qualidade e independência. Agradecemos muito à família doadora e espero que mais pessoas se conscientizem da importância de ser um doador. Faz muita diferença na vida de muita gente”, agradece.

A doença

A ceratopatia bolhosa caracteriza-se pelo edema corneano estromal acompanhado de bolhas devido à perda de células e/ou alterações da junção endotelial. A doença apresenta baixa acuidade visual devido à diminuição da transparência da córnea e pode estar acompanhada de sensação de corpo estranho, lacrimejamento e dor devido às alterações epiteliais, como a presença de bolhas íntegras ou rotas.

A distrofia endotelial corneana de Fuchs, que foi o caso da paciente Ana, é uma doença genética que causa perda progressiva e bilateral das células endoteliais da córnea. O oftalmologista da Fundação São Francisco Xavier (FSFX), Silas Machado Franco Júnior, explica que o endotélio corneano é a camada mais interna da córnea. “Ele funciona como uma bomba dentro da córnea e sua função é bombear água para fora. Quando deixa de funcionar normalmente, ocorre inchaço, que faz com que a córnea perca a sua transparência normal. O resultado é uma visão turva”, detalha.

A espessura normal de uma córnea é de 520 a 540 micras (unidade de espessura). Se ela fica muito grossa, perde a sua transparência. “A função do endotélio também é manter a córnea com espessura normal.  As células endoteliais não se regeneram, por isso não existe tratamento com medicações, a não ser o transplante de uma córnea”, pontua o oftalmologista.

 

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