Médico infectologista critica o fim da exigência do uso de máscaras
REDAÇÃO – Em entrevista ao Jornal Estado de Minas, o médico infectologista e diretor do Hospital Felício Rocho, Adelino de Melo Freire Junior, assegura que ainda é cedo para se adotar qualquer ação de relaxamento das medidas de segurança: “Sabemos que essa situação de locais fechados ainda envolve maior risco de transmissão. A máscara é uma medida extremamente simples de uso, com impacto bastante significativo na redução de risco. O que vimos na variante Ômicron é uma doença que escapa da imunidade trazida pelas vacinas. A transmissão do vírus ocorre independentemente do estado vacinal, embora a doença se manifeste de forma mais leve quando a pessoa está devidamente vacinada”.
Ele sugere que tais decisões sejam mais lentas, para que o Estado possa avaliar com mais detalhes os impactos: “Me parece precoce a suspensão da máscara nesse momento em locais fechados. Poderíamos aguardar o impacto inicial da retirada da máscara em locais abertos e avaliar como isso iria funcionar no que diz respeito aos índices de transmissão, se as pessoas iriam aderir à proposta”.
“Alto número de crianças que não foram vacinadas já é um motivo importante para as máscaras continuarem sendo exigidas”, Viviane Alves, microbiologista e professora da UFMG
Depois de viver o pico de contaminações nas últimas semanas de janeiro, com direito a média móvel de mais de 20 mil contaminações diárias, Minas agora tem estabilidade no número de infecções. O boletim de ontem apontou um total de 507 testes positivos em todo o estado, com seis mortes pela doença. A COVID-19 infectou, até o momento, mais de 3,2 milhões de pessoas, causando a morte de 60.354 delas. Apesar disso, a demanda por internações vem reduzindo progressivamente, com 6,4% de ocupação de leitos de UTI e 4,5% de enfermaria para casos da doença.
Mesmo não concordando com o fim da obrigatoriedade da máscara, ele aponta que Minas tem avançado no controle da pandemia: “Os testes de positividade são indicadores de como o vírus está circulando. Realmente, tivemos uma queda expressiva nas últimas semanas. Em janeiro, a positividade chegava a 60%, com número elevado de testes. Agora, estamos com necessidade maior de testagem e a taxa de positividade já está abaixo de 10%, o que era a realidade em novembro. É uma situação mais confortável. Não há nada que signifique um novo aumento de casos. A gente espera que isso não ocorra. O que contraria isso seria só mesmo o surgimento de nova variante, que escape da imunidade da vacina”.
Vacinação das crianças
Segundo a microbiologista e professora da UFMG, Viviane Alves, o alto número de crianças que não foram vacinadas já é um motivo importante para as máscaras continuarem sendo exigidas: “Eu acho que abolir a máscara em ambientes abertos é sensato, desde que não haja aglomerações e com distanciamento. Mas, considerando dados epidemiológicos, número de casos, alto número de crianças sem serem imunizadas e o risco de novas variantes, a medida é arriscada. Ainda temos probabilidades de surtos, principalmente em grupos que não tomaram a dose de reforço. Sabemos que muitas pessoas evitam levar os filhos para vacinar. A medida ainda é precoce, considerando que tivemos aglomerações no carnaval e há a tendência de aumento de casos”.