sexta-feira, novembro 22, 2024
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Desigualdades afetam prevenção e tratamento contra a Aids

REDAÇÃO – Os medicamentos e os programas de prevenção e tratamento contra o vírus HIV, causador da Aids, evoluíram nas últimas décadas, mas as desigualdades raciais, de gênero e socioeconômicas ainda podem ser observadas nas notificações de novos casos e óbitos decorrentes da doença.

Para discutir políticas públicas de assistência e prevenção, assim como o combate ao preconceito contra as pessoas que vivem com o vírus, a Comissão de Defesa dos Direito da Mulher da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) se reuniu, em audiência pública, nesta quarta-feira (30/11/22).

A reunião foi solicitada pela presidenta da comissão, deputada Ana Paula Siqueira (Rede), que apresentou dados os quais ratificam a tendência de pessoas negras e de populações mais vulneráveis serem particularmente afetadas pela doença.

A audiência ocorreu na véspera do Dia Mundial de Luta contra a Aids, internacionalmente definido como o dia 1° de dezembro, e em reforço à Campanha Nacional Dezembro Vermelho, com o mesmo objetivo.

Conforme informou a deputada, houve uma redução de 9,8% dos casos notificados em pessoas brancas entre 2010 e 2020, enquanto o crescimento entre as pessoas negras foi de 12,9%. Segundo ela, a mesma desproporção foi verificada em relação aos óbitos.

Ana Paula Siqueira ainda abordou a relação da doença com os mais jovens, que lideram os índices de novos casos; os homens, desencorajados e procurar cuidados de saúde por causa do machismo; e as crianças, que representavam apenas 4% dos casos de HIV em 2021, mas 15% de todas as mortes.

Por fim, ela demonstrou preocupação com o corte anunciado pelo governo federal de R$ 407 milhões no orçamento dos programas relacionados à saúde das pessoas com HIV.

Estigma e preconceito

Heliana Moura, do Movimento Nacional das Cidadãs PositHIVadas de Minas Gerais, apresentou os principais obstáculos enfrentados pelos soropositivos.

Chama a atenção a situação dos jovens infectados pela transmissão vertical – por parte da mãe durante a gestação, o parto ou a amamentação -, que na maioria das vezes descobrem ser soropositivos na adolescência, quando começam a questionar por que sempre tomaram os medicamentos antirretrovirais.

Muitos já perderam genitores por causa da doença, recebem inesperadamente uma notícia à primeira vista desesperadora e passam a conviver com o estigma e a discriminação, dos quais suas famílias tentavam protegê-los enquanto mantiam segredo.

As mulheres, principalmente as negras e periféricas, vítimas também de outros tipos de preconceito, encontram resistência no próprio sistema de saúde. Até mesmo a informação de que, em tratamento e com carga viral indetectável, não transmitem o HIV por meio do sexo às vezes é negada, para que não engravidem.

Até a troca de medicamentos, devido aos fortes efeitos colaterais, chega a ser negada. Elas são constantemente julgadas também pelas próprias pessoas responsáveis pelo seu tratamento, o que se reflete em uma demanda comum apresentada por todos os participantes da audiência: o acolhimento por parte dos profissionais de saúde, que devem ser capacitados e sensibilizados para lidar com essa parcela da população de forma humanizada.

Pré-natal eficiente garante saúde do bebê

Um dos temas tratados na apresentação da enfermeira Marcilaine Pinto foi os desafios de gestantes e puérperas com HIV, em grande parte detectado no pré-natal.

“Viver com HIV/Aids para as mulheres desconstrói o sentimento da maternidade. Elas necessitam de apoio emocional para lidar com a nova condição de vida, a fim de se prevenir e reduzir a transmissão vertical”.
Marcilaine Pinto
enfermeira

É comum o medo de morrer e de transmitir a doença para o filho, por isso alguns cuidados são necessários. Além de acompanhamento psicológico, é indicada a administração de medicamentos que inviabilizam a transmissão, assim como a alimentação do bebê com leite artificial.

Enfaixar as mamas, como já foi comum, nem pensar: as mulheres se sentem violentadas e inibidores de lactação são mais eficientes.

Tratamento precoce reduziu casos de Aids

Cristiane Hernandes, coordenadora de Saúde Sexual e Atenção as IST (infecções sexualmente transmissíveis) da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), e Mayara Almeida, coordenadora de IST do Estado, trouxeram a perspectiva do poder público frente a doença.

Cristiane destacou que o aumento de notificações a partir de 2012 se traduziu no tratamento precoce após o diagnóstico, o que trouxe redução nos casos de Aids, a manifestação da doença causada pelo vírus.

A PBH conta com serviços especializados no atendimento de infectologia, farmácias que disponibilizam os medicamentos específicos e centros de testagem e aconselhamento. Para as gestantes, há a garantia de pré-natal especializado, a oferta de fórmulas infantis para crianças de até um ano e de medicamentos antirretrovirais para a mãe e o recém-nascido.

O Governo do Estado, informou Mayara, ampliou a testagem rápida para as unidades de atenção primária à saúde e conseguiu alcançar o índice de 91% de carga viral indetectável, o que impede a transmissão.

Entre as principais ações do governo, estão a prevenção além do preservativo, com fármacos para pessoas em contexto de maior vulnerabilidade para infecção ou depois de expostas ao risco, o repasse de R$ 15 milhões para a vigilância e o controle da doença em 65 municípios-polo e a distribuição de 26 milhões de preservativos.

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