Convênio firmado pela Semad estrutura projeto para recuperação de cavalos
REDAÇÃO – Nada como estar no lugar certo, na hora certa. Durante uma reunião na construtora onde trabalha, o engenheiro Leonardo Dib soube que dois cavalos, vítimas de maus-tratos e trabalho forçado, precisavam de acolhimento, já que a mãe de um dos diretores da empresa, que ajuda algumas Organizações Não-Governamentais (ONGs), precisava do auxílio. Leonardo, então, cedeu a fazenda do pai para abrigar os dois animais. Foi aí que o Projeto Alazão começou a amadurecer.
Leonardo, que já era engajado com projetos sociais voltados para a valorização da vida humana, por meio do Instituto Pedra Viva, criou oficialmente o Projeto Alazão em julho de 2020. A iniciativa consiste no acolhimento de cavalos apreendidos em Belo Horizonte por denúncias de maus-tratos e trabalho forçado, e funciona por uma parceria com a ONG Vida Animal Livre.
Foi a entidade que pleiteou ajuda com deputados para a destinação de emendas parlamentares para auxiliar o projeto. A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), então, por recurso de R$ 240 mil, indicado via emenda parlamentar pelo deputado federal Fred Costa, fez um convênio com o Instituto Pedra Viva, para custeio de ração e feno dos cavalos do Projeto Alazão, pelo período de um ano e meio.
O Projeto Alazão funciona da seguinte forma: a ONG parceira encaminha os cavalos vítimas de maus-tratos. Na fazenda, Leonardo e seu ajudante Adriano cuidam dos animais e os recuperam — não só na parte física, mas, também, no emocional —, até chegarem ao ponto em que estejam aptos a serem doados. São dezenas de cavalos abrigados. Os valores enviados por meio do convênio com a Semad, por exemplo, servem para custear a alimentação dos animais.
Desde o início do projeto, oito cavalos foram adotados, em um processo rigoroso feito por Leonardo. “Enxerguei que temos que criar um ciclo de rotatividade das adoções e encaixar esses cavalos para pessoas que realmente tenham outro motivo para cuidar”, diz.
Leonardo também conta com diversas parcerias para fazer com que o projeto evolua. Um dos voluntários, por exemplo, convenceu um proprietário de uma fazenda na Região Metropolitana de Belo Horizonte a arrendar 16 hectares de seu espaço para receber o Projeto Alazão, tendo em vista que, pela quantidade de cavalos recebidos, a iniciativa precisaria de um local maior.
Amor por cavalos
O sentimento de carinho por cavalos não é novo para Leonardo. Existe desde a infância. O nome do projeto é uma prova. Alazão era como se chamava o cavalo do fundador da iniciativa. Na adolescência, Leonardo estava sempre perto do animal e fazia de tudo para proporcionar qualidade de vida ao amigo.
“Eu ia a pé para o colégio, guardava o dinheiro da passagem só para comprar um saco de farelo de trigo para o meu cavalo comer”, conta.
Quando abrigou os dois primeiros cavalos, Leonardo passou a aprofundar seus conhecimentos na causa animal, mais especificamente na recuperação dos cavalos. Foi aí que ele chegou à conclusão de que não adiantaria apenas abrigar os animais, mas, também, teria que recuperá-los para seguir a vida, uma vez que um cavalo vive de 20 a 25 anos.
“Percebi que não dava para ajudar apenas dois cavalos, que tínhamos que montar uma estratégia pública de forma que vá encaixando esses cavalos para subirem degraus na vida”, afirma Leonardo.
Novas ações
Leonardo planeja seguir trabalhando para recuperar os cavalos para doá-los de forma responsável. Ele tem até uma área específica em mente para inserir alguns dos animais: a equoterapia, método terapêutico que utiliza cavalos para ajudar no desenvolvimento de pessoas com deficiência ou com necessidades especiais, por meio da equitação.
O fundador do Projeto Alazão destaca que a criação de cavalos na equoterapia é equivalente aos cães guia para quem tem deficiência visual, por exemplo, fornecendo, além dos cuidados básicos (alimentação e higienização), amor e carinho.
“Uma das coisas que quero fazer é a doma dos animais, a preparação para esses cavalos. Tem cavalos que vamos conseguir preparar. Outros, não tem jeito. O trauma é tão grande que você não consegue. Mas a maioria dos animais, levando carinho e amor, você consegue resgatar. Só precisa de empenho”.
Leonardo também tem contactado universidades para alinhar uma parceria, de forma que a fazenda onde os animais estão abrigados atualmente seja uma “extensão de aula de campo”, contribuindo ainda mais com o bem-estar dos cavalos e com a formação dos estudantes. O fundador do Projeto Alazão também planeja construir o Memorial Alazão, que vai resgatar a história do cavalo.
Atuação da Semad
A Semad assumiu a gestão da Fauna Doméstica em 2019 e, desde então, executa diversos convênios e parcerias com municípios e Organizações da Sociedade Civil em prol da defesa e bem-estar dos animais domésticos em todo o estado.
“Com relação aos equídeos, a indicação do recurso parlamentar possibilitou à Semad avançar em suas ações de proteção e bem-estar, sendo a parceria com o Instituto Pedra Viva apenas o primeiro passo para a implementação de uma política pública eficiente e eficaz na defesa dos cavalos que tanto sofrem com os maus-tratos e a exploração humana”, frisa o subsecretário de Gestão Ambiental e Saneamento da Semad, Rodrigo Franco.
O superintendente de Gestão Ambiental, Diogo Franco, aponta que “os direitos à dignidade e ao bem-estar desses animais figuram hoje no cenário político e social mundial como um direito essencial e, portanto, merecedor de planos de governo elaborados e sensíveis à garantia da vida e de direitos fundamentais”.
Dessa forma, a Coordenadora de Fauna Doméstica da Semad, Patrícia Carvalho, considera que o início do Projeto Alazão é “um marco na história de nosso Estado no desenvolvimento e proteção dos equinos e do dos direitos de todos os animais, pois, além de garantir os cuidados básicos de saúde e alimentação dos cavalos abrigados, cuida da recuperação de seus traumas e dores emocionais, ressocializando os animais e incluindo-os novamente ao convívio com os humanos, por meio da adoção”.
A veterinária do Núcleo de Fauna Doméstica da Semad, Izabela Moreira, pontua que “uma vez que esses animais são resgatados e reabilitados, eles não podem mais serem utilizados como veículos de tração ou expostos a atividades que causem qualquer tipo de lesão ou desgaste físico”.