Comunidade protesta contra mineração em Guanhães | O assunto repercutiu na ALMG
BELO HORIZONTE – Poluição, barulho, mananciais de águas secos, animais mortos e vegetação suprimida. Esse é o rastro de destruição deixado pelas atividades da Serra Leste Mineração, segundo moradores da comunidade de Barreira de Cima, de Guanhães (Vale do Rio Doce). Eles foram ouvidos pela Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), em audiência pública realizada nesta quarta-feira (25/5/22).
Emocionados, protestaram contra o empreendimento, cobraram empatia dos dirigentes da mineradora e pediram ajuda para retomar sua vida pacata na zona rural do município.
Consulte o resultado e assista ao vídeo completo da reunião.
Uma das moradoras presentes, Claudete Ferreira destacou os fortes laços afetivos que unem a comunidade, agora ameaçada pela mineração. Ela relatou que seus pais estão com medo, passando noites sem dormir, com seguranças armados à sua volta e marcos da mineração a uma curta distância de casa. “Mais de 20 nascentes estão sendo destruídas, animais estão morrendo, pessoas que nunca saíram dali não sabem para onde ir”, lamentou.
Seu pai, Cláudio da Silva, que viveu seus 69 anos na comunidade, alertou que não vai sair de qualquer maneira. “Seria a mesma coisa que sair para o cemitério”, afirmou. A sua esposa, afetada psicologicamente pela devastação ambiental causada, está em tratamento psiquiátrico e gasta R$ 800 por mês da sua aposentadoria com remédios.
Jurandir Andrade, que também reside na comunidade, alertou para o risco de vida que estão correndo os vizinhos que moram abaixo da zona explorada. Segundo ele, grandes pedras já rolaram de lá e caíram em quintais dessas casas.
Maria do Socorro contou ter ido com familiares a uma reunião reservada, para a qual nem ela nem as famílias realmente atingidas foram convidadas, entre representantes da Serra Leste e moradores da região. Os participantes foram alertados que não deviam fazer perguntas, apenas ouvir, e uma das funcionárias até mesmo admitiu que o encontro era apenas uma formalidade necessária para a liberação das atividades. Ao fazer questionamentos, os moradores foram expulsos do contêiner adaptado em que foram recebidos.
Brasil real
Advogada e militante em favor dos atingidos por essas atividades “predatórias”, Giovanna Menezes fez uma diferenciação entre o “Brasil legal” e o “Brasil real”, ao comentar a liberação dos órgãos ambientais para a mineração na região.
Ela ponderou que o primeiro, contido em códigos que regulam relações patrimoniais e de poder, precisa lembrar do segundo, representado pelos moradores, os trabalhadores do empreendimento, os seus reflexos para a comunidade, para a natureza. “Não existe no estudo para o licenciamento o que a obra vai fazer na comunidade. Não há um plano de apoio que contemple a população rural atingida”, advertiu.
Mauro Dutra, também advogado, apresentou um relatório com exemplos da destruição de tanques de piscicultura e da nuvem de poeira levantada pela mineração, que contém sílica, altamente tóxica.
MORADORES FICAM SEM RESPOSTAS
A expectativa das famílias e do presidente da Comissão do Trabalho da ALMG, deputado Celinho Sintrocel (PCdoB), que solicitou a audiência, de que a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e a Serra Leste Mineração apresentassem seu posicionamento frente aos relatos dos moradores, foi frustrada com respostas evasivas.
O superintendente regional de Meio Ambiente do Leste Mineiro, Fabrício Ribeiro, disse apenas que pretendia escutar a comunidade para se inteirar do que merece maior atenção nas vistorias de fiscalização relacionadas às condicionantes impostas à empresa.
O engenheiro Breno Tavares e Igor Santos, representantes da mineradora, garantiram ter tomado nota das reclamações dos moradores e que iriam levá-las ao conhecimento da empresa, para serem discutidas internamente.
DESDOBRAMENTOS
O deputado Celinho Sintrocel disse ter constatado, in loco, como a atividade minerária tem comprometido a vida da comunidade. De acordo com o parlamentar, a prefeitura arrecada cerca de R$ 1,7 milhão por ano com a mineração, valor insuficiente para cobrir os problemas causados. Após ouvir os relatos das famílias, ele apresentou requerimentos cobrando informações e providências do Estado e da mineradora.