Recuperação do paciente: Dependência química é considerada transtorno mental, alerta psiquiatra
Redação – A todo momento as pessoas são cobradas e influenciadas pelo meio em que vivem, sendo que muitas vezes, a sociedade determina como o indivíduo deve pensar, agir e se comportar. Essas normas impostas, o excesso de liberdade, cobrança de resultados nos estudos, no trabalho e no convívio familiar, fazem com que haja fuga do indivíduo para outros meios, onde a droga e o álcool figuram como solução para os problemas. O uso de drogas é considerado, atualmente, um grave problema de saúde pública.
No Relatório Mundial sobre Drogas de 2015, o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC) destaca que cerca de 246 milhões de pessoas, ou um pouco mais de 5% da população mundial entre 15 e 64 anos de idade, usaram drogas ilícitas em 2013. Usuários de drogas problemáticos, somaram por volta de 27 milhões, das quais quase metade são pessoas que fazem uso de drogas injetáveis. Só no Brasil, o índice é de mais ou menos seis milhões de brasileiros dependentes químicos, o equivalente a 3% da população geral.
Conforme o médico psiquiatra e cooperado da Unimed Cuiabá Mario Vinicios Silva Martello, a dependência química é uma doença causada pelo consumo repetitivo de determinadas substâncias, levando a prejuízos severos ao indivíduo.
A dependência química é um transtorno mental caracterizado por um grupo de sinais e sintomas decorrentes do uso de drogas. Esses sinais e sintomas são: compulsão pelo uso da droga; sintomas de abstinência, necessidade de doses crescentes para atingir o mesmo efeito; falta de controle sobre a quantidade do uso; abandono de outras atividade e manutenção do uso, mesmo tendo prejuízos evidentes causados pela droga. “Três desses sintomas já são suficientes pra se diagnosticar a dependência química”, ressalta o médico.
De acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), as substâncias causadoras de dependência são: álcool, tabaco, cocaína e derivados como o crack e a pasta-base, maconha, alucinógenos, solventes e inalantes, a exemplo da cola de sapateiro e acetona, estimulantes como anfetaminas e cafeína, opióides, sedativos e hipnóticos (medicações como o diazepam). “As drogas que mais comumente causam dependência em nossa sociedade são o álcool, tabaco, cocaína e seus derivados, que vem aumentando de forma alarmante sua incidência nos últimos anos. Outra grande preocupação é com o abuso de medicações sedativas, os famosos “tarja preta”, cujo uso indiscriminado tem tornado muita gente dependente”, explica Mario.
Consequências
A doença causa diversos prejuízos à vida do paciente em todas as esferas. Mário explica que para um dependente químico, usar a droga é o principal objetivo da pessoa, e todo o resto como família, estudos, trabalho e saúde ficam em segundo plano. Além disso, estão expostos a deterioração da saúde física e psíquica, promovidos pelas drogas. Os derivados de cocaína causam déficit cognitivo e lesão pulmonar, o álcool pode levar à cirrose e demência, o tabaco causa câncer, entre outras doenças.
“Eles tem dificuldades em se firmar no emprego, concluir um curso, conviver em família ou até mesmo fazer planos para o futuro. Seus relacionamentos são conflituosos e há maior incidência de comportamento violento e envolvimento em situações de risco como dirigir intoxicado e fazer sexo sem proteção”, alerta.
Prevenção
Segundo o psiquiatra Mário, a melhor forma de prevenção é não experimentar. “Algumas drogas causam dependência muito rapidamente, como a cocaína e seus derivados, anfetaminas, tabaco e opióides. Para essas, a mera experimentação já é um comportamento de altíssimo risco”, salienta. É importante que usuários de drogas fiquem alertas e procurem ajuda.
Doença tratável
Vale lembrar que não existe cura para a dependência química, ou seja, há o controle da doença com tratamento. As alterações cerebrais causadas pela droga são, em grande parte, irreversíveis. O cérebro guarda uma espécie de “memória” da droga por toda a vida, por isso, mesmo dependentes químicos em tratamento, que já estão livres de qualquer droga há várias décadas, irão voltar ao mesmo padrão de consumo excessivo da substância caso voltem a experimentá-la.
Tratamento
O tratamento é multidisciplinar, envolvendo médico psiquiatra, psicólogo e outros profissionais dependendo de cada caso. O uso de medicação é de grande utilidade pois ajuda a conter a vontade de usar e a diminuir os sintomas de abstinência. “A internação, tanto voluntária quanto compulsória, é um instrumento útil em casos selecionados, assim como os grupos de mútua ajuda como o Alcoólicos Anônimos e o Narcóticos Anônimos”, pondera.
Mário ressalta que o apoio familiar é fundamental no processo de tratamento e que a família precisa se envolver e incentivar o doente na busca pela abstinência, entendendo que esse caminho é tortuoso, e que as recaídas são comuns nesse processo.
“Os familiares precisam entender que a dependência química é uma doença e não um desvio moral. Ao mesmo tempo, junto a esse apoio, precisa haver uma postura firme dos familiares para não permitir que o paciente os manipule. É um equilíbrio difícil de ser atingido e um desafio, principalmente para os pais ou cônjuge. Grupos de mútua ajuda próprios para a família, a exemplo do grupo de apoio amor-exigente, ajudam bastante” finaliza o psiquiatra Mario Vinicios Silva Martello.
Fonte: Unimed Cuiabá