Ex-secretário defende testes contra a subnotificação do coronavírus
Redação – Questionado por deputados estaduais, preocupados com o enfrentamento à pandemia da Covid-19 em Minas Gerais, o ex-deputado estadual e ex-secretário de Saúde Antônio Jorge afirmou que é preciso aumentar a testagem entre a população para reduzir a subnotificação da doença.
Ele também é médico e integrou o Comitê de Enfrentamento da Covid-19, do Ministério da Saúde, ainda na gestão do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta. Antônio Jorge participou de Reunião Especial de Plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), que debateu a pandemia do coronavírus, na tarde desta quarta-feira (27/5/20).
Participaram do debate o presidente da Comissão de Saúde, Carlos Pimenta (PDT), que estava presente no Plenário, e outros membros da comissão, de forma remota, respeitando as orientações de isolamento social e redução de aglomerações. Carlos Pimenta reportou, também, questionamentos e posicionamentos de outros colegas que não se pronunciaram, como os participantes do Bloco Sou Minas Gerais. A reunião foi conduzida pelo 2º- vice-presidente da ALMG, Cristiano Silveira (PT).
Ele foi confrontado com os números apresentados pelo presidente da Comissão de Saúde em relação à incidência de síndrome de deficiência respiratória – um dos sintomas mais graves da Covid-19. No ano passado, foram registradas 200 mortes provocadas pela síndrome; neste ano, até este mês, o número subiu para 1,5 mil.
“É legítimo pensar que parte dessas mortes seja pela Covid”, afirmou o ex-secretário. Ele defendeu que sejam ampliados os dois tipos de testes disponíveis. O rápido, que mede o nível de imunidade do paciente em relação ao vírus, e o PCR, que consegue identificar a presença do novo coronavírus.
Além do Hospital Universitário, ligado à Universidade de Montes Claros (Unimontes), no Norte de Minas, citado por Carlos Pimenta, o ex-secretário afirmou que outras três unidades em Juiz de Fora (Zona da Mata) já estão prontas para a realização dos testes.
Antônio Jorge propôs a testagem rápida por amostragem, para verificar o nível de contaminação da população. Essa identificação pode pautar as decisões relacionadas ao tema, como as medidas de flexibilização da economia.
Na opinião dele, ainda não é hora de um relaxamento no controle da pandemia, considerando que Minas ainda pode ter um agravamento do quadro. “Não fiquemos muito confortáveis, porque nossa capacidade de resposta assistencial é menor que a de São Paulo”, alertou. Ele lembrou que o período de maior contaminação pela gripe influenza começa com a chegada do inverno, o que pode comprometer ainda mais o sistema de saúde.
Medidas individuais propiciam ganho coletivo
Antônio Jorge reforçou a importância dos cuidados que cada cidadão deve ter para evitar a propagação da doença. Ele mesmo foi infectado pelo vírus, que lhe causou pneumonia grave. Somando essa experiência pessoal e toda sua bagagem no setor, tirou algumas lições desse quadro: “A minha obsessão com a máscara, a higienização e o distanciamento social fizeram com que ninguém do meu convívio se contaminasse”. E acrescentou que são essas mesmas medidas que promovem a redução em dois terços na transmissão da doença. “Essa é uma obrigação cívica de toda a população”, disse.
Antônio Jorge relatou ter usado cloroquina no tratamento, mas que não há evidências de que o medicamento reduza a mortalidade pela Covid-19. “Isso não é assunto para gabinete político, é para gabinete técnico”, afirmou.
De acordo com o médico, a criação de um comitê específico evitaria o que já está acontecendo: o aumento da mortalidade domiciliar por outras doenças. Ele afirmou que caiu o acompanhamento e o atendimento de outras enfermidades e que muitas pessoas não procuram o hospital, por medo da contaminação pelo novo coronavírus. “Não podemos ter toda estrutura focada só nisso (a Covid-19). Não se pode negligenciar as outras áreas”, declarou.
Indagado sobre a eficiência e a segurança do programa estadual Minas Consciente, que prevê a reabertura gradual do comércio, Antônio Jorge evitou críticas, mas ressalvou que o plano precisa de mais clareza sobre alguns pontos, como em relação à identificação das condições ideais para flexibilizar alguns setores.
População negra – A desigualdade no atendimento às vítimas da Covid-19, com um número mais elevado de mortes entre a população negra, foi uma das questões abordadas pelo deputado Doutor Jean Freire (PT). Antônio Jorge concordou com a avaliação e citou seu exemplo pessoal para ilustrar o drama vivido pelos desassistidos. “Eu tive a melhor assistência e mesmo assim achei que ia morrer. Fico pensando o desespero dos que não tiveram uma assistência diferenciada”, afirmou o ex-deputado.
Outro integrante da Comissão de Saúde, o deputado Doutor Paulo (Patri) mostrou preocupação com a escassez e o encarecimento de diversos insumos médicos. Antônio Jorge afirmou que o Estado deveria intervir para evitar abusos do mercado.