quinta-feira, novembro 21, 2024
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PADRE ABDALA, 92 ANOS, UMA DOCE LEMBRANÇA

Por: Margarida Drumond de Assis

Com que alegria, nós do Vale do Aço, em especial os timotenses e paroquianos da Paróquia São José de Acesita, nos lembramos hoje, em memória, do aniversário de Padre Abdala Jorge, nascimento no dia 19 de julho de 1927, em São João Del Rei. Pe. Abdala viveu o ministério sacerdotal, dando plenos exemplos de alguém que assume radicalmente o Evangelho. Viveu a serviço do mais necessitado, defendeu o injustiçado, valorizou  a pessoa para que ela se sentisse bem, com dignidade.

Recordar Pe. Abdala é lembrar Ir. Aparecida no que ela disse a seu respeito, pois o ajudou por vários anos em sua caminhada sacerdotal e conheceu bem a sua história. Contou que, antes de ele nascer, dona Rosa sentia-se humilhada por não ter um filho homem, isto devido à cultura dos libaneses, conforme era o caso da origem dela e do marido Jorge Abdala. Então, em certa noite, clamou: “Oh, Deus, me dá um filho homem, ele será consagrado a Vós, será todinho Vosso”. Ele nasceu e, ao longo de sua vida, não fazia segredo de sua origem; ao contrário até dizia naquele seu tom de voz firme: “Eu já nasci padre!”

Os desígnios de Deus são insondáveis, e dona Rosa se alegrava ao ver que o menino Abdala, já bem cedo, antes mesmo de ir para a escola, atuava como coroinha, na celebração da missa. Anos depois, cumprido o Seminário, a Igreja acolhe, no dia 30 de novembro de 1952, o novo sacerdote; e, em mais dois meses, chega-nos Pe. Abdala para ajudar Mons. Rafael Arcanjo Coelho, nesta Igreja que crescia e que viria a ser a Paróquia São José de Acesita, da qual neste ano celebramos 60 anos da  criação.

Sobre Pe. Abdala, ressaltou Pe. Moacir Generoso, que bem o conheceu, ajudando-o na Paróquia São José de Acesita: “Sua sólida formação no Seminário fez dele um sacerdote muito puro no que diz respeito ao Celibato. Jamais um gesto, uma palavra maliciosa, uma piada ‘suja’. Tratava com espontaneidade as mulheres, mas sem proximidade excessiva”. Exemplo é o que ocorreu na década de 60, quando ele desceu do Jeep para dar lugar a uma senhora, mandando que o amigo e motorista, Diolindo, tocasse adiante, enquanto ele seguia a pé.

Também é forte a lembrança do jeito simples e despreocupado de ser do sacerdote Abdala. A ele o que importava era a essência da pessoa, não a casca. E aceitou bem as inovações do Concílio Vaticano II. Dizia: “João XXIII escancarou as portas da Igreja” (pág. 165).

De sua atuação pela Justiça, recordamos a época do massacre ocorrido em 1963, em Ipatinga, quando se posicionou em defesa dos trabalhadores; também as suas  várias participações nos movimentos grevistas, defendendo a classe operária. Era então comum ele dizer que temos de arriscar a vida pelo ideal, mas temos que criar soluções objetivas”.  Neste agir, Pe. Abdala se posicionava sem medo e a sua voz ecoava na Praça 1º de Maio, através de alto-falantes (pág. 214). Conforme Antônio Marcos, atual presidente do Sindicato Metasita,  foi marcante o posicionamento que Pe. Abdala teve na greve de dez dias, em 2000. Ele estava lá com os trabalhadores sempre firme, dando força, aconselhando e mostrando que eles deveriam perseverar na luta por seus direitos e que a classe permanecesse unida.

Assim, por tudo quanto nos ensinou e viveu Pe. Abdala, testemunhando o amor de Deus por nós, 92 anos passados de seu nascimento, permanece conosco a certeza de que ele esteve aqui já cumprindo o que pede o Papa Francisco, como sacerdote em prol de uma Igreja mais simples e mais perto do povo, um “pastor com cheiro de ovelhas”.

Margarida Drumond de Assis é jornalista e escritora, autora de várias obras, dentre elas, Eu já nasci padre !, sobre a vida de Pe. Abdala Jorge, lançamento em 2018.

Contatos: (61) 98607-7680 margaridadrumond@gmail.com   www.margaridadrumond.com

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